Parauapebas: entre o céu e o inferno
Cidade do Pará onde se localiza a maior jazida de minério de ferro do planeta, Parauapebas opõe a riqueza gerada pelas atividades da Companhia Vale do Rio Doce à pobreza de migrantes miseráveis, desesperados por emprego
Texto e fotos por Carlos Juliano Barros
Repórter Brasil percorreu os 892 quilômetros da Estrada de Ferro Carajás, de Parauapebas (PA) a São Luís (MA). Controlada pela Companhia Vale do Rio Doce, gigante multinacional do setor de mineração, cujo lucro líquido alcançou mais de R$ 6 bilhões no primeiro semestre deste ano, a ferrovia iniciou suas atividades em 1985. No ano seguinte, começou a funcionar o trem de passageiros, com capacidade para o embarque de até 1,5 mil pessoas.
A linha de trilhos, que corta 22 municípios nos dois estados, foi construída para escoar principalmente o ferro proveniente da maior província mineral do mundo, a Serra dos Carajás, recheada ainda de níquel, cobre, manganês, ouro, além de outros metais e pedras preciosas. Os vagões também transportam outros carregamentos valiosos como soja, combustível e fertilizantes até a capital maranhense - de onde são exportados para o mundo inteiro através dos portos de Itaqui e Ponta da Madeira.
O empreendimento bilionário redesenhou parte expressiva da paisagem amazônica, estimulou novas atividades econômicas, como a siderurgia, além de causar uma reviravolta nas relações sociais e na vida da população da região, notadamente na dos povos indígenas. O impacto gerado nas últimas duas décadas pela Estrada de Ferro Carajás, ao longo dos lugares atravessados por ela, é o assunto desta série de reportagens.
Parte I - Parauapebas: entre o céu e o inferno
Parauapebas era apenas um acanhado povoado de Marabá, no sudeste paraense, quando foi descoberta em 1967 a incrível jazida com mais de 2 bilhões de toneladas de minério de ferro de alto teor da Serra dos Carajás. Hoje, emancipada há quase duas décadas, e com um dos três maiores orçamentos do estado devido aos royalties e impostos gerados pelas atividades da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) em seu território, a cidade sofre com um problema típico das grandes metrópoles nacionais: o crescimento desordenado.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam pouco mais de 90 mil habitantes no município. Porém, o poder público local sustenta que as estatísticas estão defasadas, e a população já passa dos 140 mil. A periferia incha a uma velocidade espantosa, e a maior parte das pessoas que se estabelecem em moradias precárias vêm de regiões muito pobres do Maranhão. Desde a privatização da CVRD, quase dez anos atrás, os negócios da empresa e a extração de ferro estão em franca expansão. Quem chega traz consigo a esperança de abocanhar um pedaço do bolo de dinheiro que a mineração injeta na economia de Parauapebas.
A ferrovia é o meio de transporte mais usado por quem chega a Parauapebas fugido da miséria |
Um emprego na Vale é o sonho de nove em cada 10 pessoas de Parauapebas |
"A Vale sempre sofreu com a baixa qualificação da mão-de-obra", explica Elizabeth Martins, diretora do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) de Parauapebas, construído e equipado pela CVRD, em outubro do ano passado, a fim de capacitar jovens selecionados para programas específicos de treinamento da companhia. No ano que vem, diz Elizabeth, o Senai também deverá oferecer cursos profissionalizantes variados à comunidade. Mas, por enquanto, o centro de formação dedica-se exclusivamente à criação de quadros competentes para a exploração dos recursos da maior província mineral do mundo.
Vista do Núcleo Carajás, que abriga os funcionários de alta patente da Vale |
Periferia de Paruapebas: pobreza absoluta em meio à maior província mineral do planeta |
Outras reportagens do especial Estrada de Ferro Carajás:
Parte II - Trem de maranhense
Parte III - O efeito colateral do progresso
* Esta reportagem integra o Especial Estrada de Carajás e foi publicada em parceria com a revista Revista Problemas Brasileiros
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