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terça-feira, 3 de abril de 2012

Neto Lucon / Entrevista: Felipa Tavares


"Moda com transexuais é apenas uma fase"
Neto Lucon (Virgula)

A modelo mineira Felipa Tavares, de 25 anos, é um mulherão. Daquelas que fazem você olhar para cima e ficar na ponta do pé para dar um abraço. Porém, não é apenas o 1,81m de altura que faz dela um destaque da agência 40 Graus. Felipa, assim como a top Lea T, é uma mulher transexual.

É a única do casting da agência, escolhida a dedo pelo empresário carioca Sérgio Mattos – o mesmo responsável por revelar modelos como Isabeli FontanaRaica OliveiraDanyella Sarahyba e Fernanda Tavares - durante um workshop no Rio de Janeiro.

Logo que começou a modelar no finzinho de 2011, virou “Personagem da Semana” da revistaÉpoca, e até recebeu uma dica de sua maior inspiração, Lea T: “Felipa terá de ser forte, corajosa e não achar que essa vida é glamour. Tem de se dedicar e estudar, preparar seu futuro, porque nossa vida é difícil”.

Com personalidade forte, Felipa não concorda quando Lea diz que a inclusão de transexuais nas passarelas não é modismo. Para ela, logo logo modelos transexuais deixarão de causar tanto impacto. “É apenas uma fase”, frisa.

Você foi descoberta no workshop de Sérgio Mattos, mas ninguém sabia que era transexual. Acha que, se soubessem da sua história, poderia ser rejeitada?
Acho que não, pois o mercado no mundo da moda abriu para as trans. Se fosse antes da Lea T, com certeza, mas agora não. Antes dela, quem estava? Apenas a Isis King (modelo transexual que participou do ‘America’s Next Top Model), mas ninguém abria espaço. O Serginho viu que a Lea deu certo, essa repercussão toda, então quis dar oportunidade para outras também. Acho que só contribuiu o fato de eu ser trans.

Como é ser a única modelo transexual da agência 40º?
É bem interessante, pois quando querem um trabalho diferente, me chamam. Quando entrei na agência, ninguém sabia da minha história. Assim que souberam, pela mídia, me olhavam de rabo de olho, cochichavam (risos), nada muito anormal. Me receberam e me tratam superbem, tanto as meninas quanto os meninos. 

A moda está mais aberta à diversidade de gênero e sexualidade. Isso pode ser uma fase? O que pretende fazer para prolongar a carreira?
Acredito que seja uma fase, sim, pois a moda vai inevitavelmente mudando. Com o tempo, além de não ser mais uma grande novidade, mais meninas estarão no mercado, o que aumenta a concorrência. Pretendo começar faculdade de moda e também investir em um curso de teatro. Não ficarei só na carreira de modelo, não. Vou abrir um leque de possibilidades para depois que tudo passar.

Ensaio com Felipa Tavares: androginia está na moda
Na matéria da revista “Época”, você declarou que se inspira em Lea T. Não tem receio de ficar na sombra dela?
Ela é uma inspiração para mim, adoraria fazer um ensaio ao lado dela, mas não tenho receio de ficar ligada à Lea. Sou bem diferente dela. O estilo de beleza, os nossos traços, são totalmente diferentes. Não acho que existam outras comparações além do fato de sermos trans.

Como está sendo sua trajetória pelo mundo da moda?
Estou fazendo mais fotos neste ano e adorando os ensaios. Aliás, sempre gostei muito do mundo da moda, sessões de fotos e dos temas. Me entrego de corpo e alma. Lembro que, quando era pequena, via os desfiles da Victoria’s Secret e ficava sonhando acordada. Mas não pude dar continuidade porque as mudanças do meu corpo não foram rápidas. Fui mudando com o tempo, demorou um pouco para chegar onde estou, apesar de ainda querer modificar alguma coisa.
Minha beleza é diferente da Lea T
O que você pretende mudar mais? 
A primeira mudança é operar... Fazer a redesignação sexual (popularmente conhecida como mudança de sexo). Se eu pudesse escolher, não colocaria silicone, nem mudaria o rosto - já que nem isso eu tenho, é só hormônio - faria a cirurgia de transgenitalização. Não me sinto bem quando me olho no espelho. Quando me arrumo para uma festa, não ligo porque estou de roupa. Mas quando estou saindo do banho... Não me sinto bem, vejo que tem algo errado.

A Lea posou nua com o órgão sexual masculino à mostra na “Vogue”. Teria coragem? 
Apesar de ser uma “Vogue”, não, não teria. Eu tenho algumas fotos em que estou pelada, de lado, mas não de frente. O peito eu já mostro com tranquilidade, porque em todos os ensaios os fotógrafos pedem para eu mostrar. Mas de frente, não. Me olhando já não me sinto bem,  imagina o mundo inteiro olhando inteiro? (risos). Acho que a Lea é muito corajosa.

Sei que o mundo trans é repleto de rusgas. Tem contato com outras modelos transexuais, como Carol Marra, Lea T?
É meio distante mesmo. Com a Lea, depois do conselho que ela me deu na revista “Época”, nunca mais tive contato. Entrei no Facebook da Carol, mas ela ainda não me adicionou. Tenho algumas amigas transexuais que me incentivam, mas já vi muita gente criticando. É muito difícil ter mídia voltada para travestis e transexuais, então quando isso acontece, elas têm que ficar felizes, não apedrejar ainda mais.
"Sonhava acordada com os desfiles
da Victoria's Secret
VEJA ENTREVISTA NO VIRGULA

Transexual no Exército

Modelo transexual Felipa Tavares revela sua experiência no Exército

Felipa Tavares aos 25 e aos 17
A modelo transexual Felipa Tavares, de 25 anos, é hoje um dos grandes destaques da agência “40 Graus”, no Rio de Janeiro. Aos 17, ainda vestindo-se como um garoto, alistou-se no Exército, tornou-se recruta e vivenciou o que lhe descreveram como “passagem para o inferno”.
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Uma transexual no Exército? Não. Embora Felipa ostentasse cabelos compridos e se vestisse de maneira bem andrógina, ela era vista apenas como um homossexual extremamente feminino pelos colegas. E, apesar do ambiente machista, sua entrada não foi dificultada. 
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“Me alistei, sem querer ou imaginar que fosse ser chamada. E, mesmo sem conseguir fazer dois dos exercícios, eles me apontaram e disseram: ‘bem-vindo ao inferno, você está dentro do quartel’. Foi quando comecei a tremer e me perguntar o que estava fazendo ali”, revela. 
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Nos primeiros dias, teve um dos maiores traumas: viu seus lindos cabelos cortados e rapados. “Consigo lembrar da cara de prazer deles ao me verem careca”, recorda a top. Ela ressalta que também teve que abandonar o figurino unissex e a postura feminina. “A primeira vez que eu fui para lá, fui de calça apertada, bem andrógina”. 
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Apesar da difícil rotina que estava por vir, Felipa decidiu parar de se lamentar e encarar o desafio da melhor maneira possível. Com espírito aventureiro, juntou-se aos outros rapazes, realizou todos os exercícios e até se arriscou em assuntos bastante masculinos. “Convivi pela primeira vez com meninos, já que sempre estive na presença de meninas”. 
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“Tive que falar de futebol, ir pra rua, aprender a estar no meio deles. No começo me assustei, chorava, não gostava, mas aos poucos fui aprendendo a ter uma convivência amigável. Foi bom esse contato para o meu crescimento”, reflete.
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‘MEU AMOR POR UM SARGENTO’
Das tarefas que mais gostava como recruta, ela ressalta o curso de escalador e os acampamentos em grupo. “Desenvolvi um espírito aventureira e gostava dessas experiências. Tanto que posso dizer que o curso de escalador foi o melhor de toda a minha vida”, garante.

"Eu chorava por ter que conviver com os meninas, mas
aprendi muito com a experiência"
Em uma das atividades, quebrou o pé e teve que ir à enfermaria. Mal sabia ela o que estava por vir... “O sargento entrou na sala e me aplicou três injeções de uma vez só. Desmaiei lá (risos). Depois, ele foi muito atencioso comigo e cuidou direitinho de mim”. 
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Em uma festa com temática LGBT, Felipa encontrou o mesmo sargento e não se intimidou em cutucá-lo. “Peguei-o pelo braço e disse: ‘Não vai me dar mais nenhuma injeção, hein? Ele ficou branco, amarelo, roxo (risos). Falou: ‘Pelo amor de Deus não conta para ninguém’ e ficou comigo”, recorda. 
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A história de amor escondido durou seis meses, sem interrupções ou preconceitos. Só terminou quando Felipa se interessou por outro rapaz do quartel, sem brigas. Hoje, eles são grandes amigos. 
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VIDA DE MODELO
Felipa garante que, da experiência masculina, ficou apenas o espírito aventureiro. Mas, ao responder se o Felipe seria um bom modelo, ela descarta a possibilidade, mas lembra de momentos curiosos dentro do quartel. 
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“Acho que não tinha nada a ver com ele... Se bem que eu já gostava de fazer pose no Exército. Tínhamos um fotógrafo, e eu pagava para ele bater foto minha. Tenho mais de 100 imagens de lá. Até foto com o pé quebrado (risos)”.
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As passarelas estavam em seu caminho...

"Namorei durante todo o tempo do Exército"
"Curso de escalador foi o melhor de sua vida"
"Desenvolvi o espírito aventureiro"

Fonte: Neto Lucon